Quando Humphry Trevelyan, britânico, cineasta, fotógrafo e educador na área do cinema desde 1969, chega ao Porto em agosto de 1975, encontra, em Miragaia, um grupo de jovens que tinham criado um centro comunitário numa fábrica abandonada. Passa uns dias a registar fotograficamente estes adolescentes e as suas famílias, entrando nas suas casas e participando num quotidiano onde a agitação política em curso parecia momentaneamente distante. Este trabalho serve de mote a mais uma “Conversa no CPF”, que terá lugar no dia 20 de outubro, precedendo a inauguração da exposição “MIRAGAIA 1975 – VIDA E LUTA NO PÓS-25 DE ABRIL”.

Estas atividades destacam a importância da preservação da memória e do património e integram-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, celebrando o papel dos arquivos na salvaguarda da história deste período marcante.

“Quando cheguei ao Porto em agosto de 1975, as marcas das convulsões do ano anterior estavam por toda a parte, nas paredes, no chão, mas, para o grupo de jovens que conheci, a vida havia voltado a uma espécie de normalidade. Muitos dos jovens estavam de férias, e para as suas mães era a vida de sempre nos meses de verão, com as suas casas cheias de crianças e adolescentes. Os adolescentes estavam ansiosos para me mostrar o mundo que tinham criado na fábrica abandonada que se tinha tornado um centro comunitário. Recriaram algumas das atividades desportivas em que tinham estado envolvidos no início do verão e desenrolaram orgulhosamente a grande faixa com slogans anti-imperialistas que tinha sido carregada em manifestações. Convidaram-me para as suas casas nas ruas estreitas que subiam a colina a partir dos espaços abertos perto do Rio Douro. Aos olhos de um estranho, a agitação política em curso parecia momentaneamente distante.”

Humphry
Trevelyan