Documento Mês – Equipamento Fotográfico

França
Coleção de Câmaras e Equipamento Fotográfico, Coleção António Pedro Vicente
PT/CPF/CCEF/APV/01013
No ano em que comemoramos o bicentenário do nascimento do escritor Camilo Castelo Branco (1825-1890), recordamos a sua última obra, Nas Trevas: Sonetos Sentimentaes e Humoristicos, publicada em 1890, onde o autor explora os dilemas humanos, o amor, a tragédia e a complexidade da alma. Nas Trevas, produto da última década do século XIX, é uma despedida literária carregada de lirismo e ironia, que reflete o estado de espírito do escritor, sombrio, moldado pelas suas tragédias pessoais e pelo drama da sua cegueira progressiva.
Nesta altura, a tecnologia avançava num ritmo acelerado, revelando ao mundo novos e curiosos dispositivos. Na fotografia, estão em voga as câmaras detetive, projetadas para serem discretas e compactas, afastando-se do então formato tradicional das câmaras de fole, mais volumosas e vistosas. A fotografia explorava agora a espontaneidade e a captura do quotidiano. O fotógrafo podia levar a sua câmara já carregada com várias chapas de vidro e, de forma anónima, quase escondida, podia fotografar as cenas, sem chamar a atenção.
Neste limiar de sombra e de luz, do visível e do oculto, a literatura de Camilo e a fotografia parecem entrelaçar-se simbolicamente, representando, à sua maneira, a busca por revelar aquilo que está omitido. A poesia de Camilo de Nas Trevas, e a lente discreta das câmaras detetive permitem registar aquilo que escapa ao olhar superficial, conduzindo-nos para um universo de mistério, introspeção e descoberta.
In the year we celebrate the bicentennial of the birth of the writer Camilo Castelo Branco (1825–1890), we recall his final work, Nas Trevas: Sonetos Sentimentaes e Humoristicos, published in 1890. In his work, the author explores human dilemmas, love, tragedy, and the complexity of the soul. Nas Trevas, a product of the last decade of the 19th century, serves as a literary farewell, imbued with lyricism and irony, reflecting the writer’s sombre state of mind, shaped by his personal tragedies and the drama of his progressive blindness.
At this time, technology was advancing at an accelerated pace, unveiling new and intriguing devices to the world. In photography, detective cameras were in vogue, designed to be discreet and compact, moving away from the traditional, more cumbersome and showy bellows cameras. Photography now embraced spontaneity and the capture of everyday life. The photographer could carry their camera preloaded with several glass plates and, anonymously, almost secretly, photograph scenes without drawing attention.
At this threshold of shadow and light, of the visible and the hidden, Camilo’s literature and photography seem to intertwine symbolically, each in its own way representing the pursuit of revealing what is concealed. The poetry of Nas Trevas and the discreet lens of detective cameras capture what eludes superficial observation, leading us into a universe of mystery, introspection, and discovery.
Détective camera, ca. 1890s
France
Camera and Photographic Equipment Collection, António Pedro Vicente Collection
PT/CPF/CCEF/ APV/01013